sábado, 1 de janeiro de 2011

Resenha | Vinte Anos de Crise - 1919-1939 | E. H. Carr

Resenha proposta pela disciplina Economia e Política Internacional.


Edward Hallett Carr, londrino, autor de 20 Anos de Crise, nasceu e viveu na era vitoriana, época da maior projeção do império britânico no cenário mundial nos âmbitos econômico e político. Vivenciou seus momentos dourados, bem como o de sua decadência frente a ascensão dos Estados Unidos no sistema internacional e, precisamente, o período entre-guerras que marcou o momento de maior crise entre a realidade dos interesses e as ideias de paz – dadas como utópicas - entre as nações que participaram da Liga das Nações, representadas pelos indivíduos, representantes das nações que participaram de sua formação, atuação e posterior fracasso.

O autor analisa e interpreta o período entre-guerras com base a cientificar o processo da Política Internacional, iniciando no discurso sobre o significado e análise da realidade dos fatos, o que leva primeiramente ao “objetivo”, aqui exposto como “a paz entre as nações”, que alimenta o pensamento para o desenvolvimento de tentativas de resolução do problema analisado; e da “utopia”, sendo como “soluções imaginativas”, o “novo”, ao que o texto, no contexto abordado do entre-guerras, faz referência à criação de um “Estado Mundial” e de uma “segurança coletiva” centrado num forum qual seja, a Liga das Nações.


Pode-se considerar a questão da real intencionalidade e percepção dos indivíduos envolvidos, ao qual aponta as “suposições não verificadas sobre o comportamento humano”; ou seja, quando há ou não a vontade de resolver o problema, as pessoas podem querer ou não fazer, o partir ou não para sua execução, promovendo ou não a ação que construirá, da melhor forma possível por meio das tentativas, a solução para o problema; conforme o autor afirma, seja para a cura de uma doença, a construção de uma ponte ou a solução de um problema de cunho político, assim promovendo bases teóricas em conjunção com a prática nos referidos campos do conhecimento, o que resulta nas Ciências -  Médica, Engenharia e Política, por exemplo. E isso é demonstrado por Carr, quando responde do porquê da “utopia” não se tornar realidade quando afirma que,
um dos fatos cujas causas terá de analisar é o de que poucas pessoas realmente desejam um “Estado mundial” ou “segurança coletiva”, e as que pensam que desejam, conceituam estas coisas de forma diferente e incompatível. Ele terá, por fim, alcançado um estágio em que o objetivo, por si só, revela-se estéril, e a análise da realidade impõe-se a ele como um ingrediente essencial de seu estudo”. (CARR, 1981, p.14)

Sua obra é uma crítica às ideias e práticas dadas como utópicas, afirmando e dando relevância ao Realismo quando expõe, com relação ao fato do interesse na criação de um Estado mundial e de uma segurança coletiva, sendo analisado com bases no comportamento humano e na sua real intenção do que era desejado (a utopia) e o executado (o agir para tal, tornar realidade) dos objetivos citados, proporcionando o vislumbre de que realmente não era o objetivo real a ser alcançado pelos Estados, representados por seus estadistas; fato demonstrado pelo aumento da tensão no entre-guerras culminando na 2ª Guerra Mundial.

Dadas estas condições, a obra perpasssa o momento histórico em que, vivenciado pelo autor, busca-se a manutenção do status-quo no sistema internacional, tendo a Grã-Bretanha como potência dominante, mas que já não conseguia se manter como tal desde o fim da 1ª. guerra mundial.

O sistema internacional estava mudando, e com a ascensão dos Estados Unidos e sua política protecionista, estava se tornando o maior exportador de bens de consumo e de capital, e a Grã-Bretanha tentava restaurar, ou retornar à época relativa ao fim do século XIX, onde vivenciara o auge de sua atuação como potência européia. Carr percebendo os interesses que determinavam a ação dos Estados e que estes tinham seus próprios objetivos e a forma de empregá-los; na obra, revela que a harmonia de interesses entre as nações não passava de uma forma de tentar manter o sistema político e econômico do século XIX, que era sustentado pelo padrão ouro e pela hegemonia britânica que, após a 1ª. guerra mundial, passava por crise que estava mostrando que o entre-guerras estava sendo o momento que simbolizava, definitivamente, uma ordem política e econômica mundial que estava em franca decadência.

Com a crise da economia européia em si, que sustentava a hierarquia entre os Estados naquela época, colocou-os em extrema tensão, principalmente àqueles que, dificilmente estavam em aceitar a realidade da perda de poder, bem como sua posição no sistema internacional; daí o fato de Carr apontar em sua obra, com base nas ideias utópicas ou o que se falava, e na realidade ou o que se executava, não haver coerência entre estes pontos onde via como base da crise, a incoerência no trato do poder com a moral, bem como nos fundamentos do Direito e a forma no trato de litígios,  repercutindo na incoerência da real intenção e ação dos estadistas, tão dita pautada na harmonia de interesses, que não se alinhava com o que era tratado na Liga das Nações, onde se mais enxergava os próprios interesses na manutenção do status quo, no afã em trazer de volta o cenário político e econômico da belle époque vivenciada pela Europa até o início da primeira grande guerra.


Leandro Guiraldeli

Nenhum comentário: