sábado, 1 de janeiro de 2011

Resenha: A Ambição Imperial – G. John Ikenberry

Resenha proposta pela disciplina de Relações Internacionais Contemporâneas.

O autor esclarece sobre as estratégias macropolítica e econômica norte-americanas, onde se observa os interesses dos EUA de se manterem e se perpertuarem como hegemônicos no sistema internacional, sendo após o fim da 2ª. guerra mundial e após o ataque às torres do World Trade Center, onde cada fase haveria de produzir suas repercussões de acordo com seu contexto e que os fatos políticos e econômicos que geraram suas consequências, no antes e principalmente no após aos ataques às torres gêmeas, explicam o seu papel de hegemônicos, e que, utilizando de argumentos com fins a justificarem a sua defesa, dão-se a liberdade de atuarem além dos tratados e da soberania dos Estados  – denotando uma hegemonia imperialista - frente ao sistema internacional.

As duas macroestratégias, mesmo pautadas em tradições intelectuais divergentes, funcionaram com eficiência desde a década de 40, representadas pela realista e liberal. A macroestratégia realista promoveu importantes compromissos de segurança em todo o sistema internacional, enquanto que a estratégia econômica, pautada na tradição liberal, promoveu uma nova ordem por meio da abertura comercial, da democracia e de relações institucionais multilaterais, denotando que, por trás deste estratégia, os EUA haveriam de se valer de seu peso político para criar as regras que lhes agradassem e que protegeriam seus interesses na manutenção de seu poder e na ampliação de sua influência no sistema internacional. Assim, promoveram-se resultados positivos para a liderança norte-americana, exercendo seu poder ao mesmo tempo que puderam ter seus interesses atendidos, bem como o fortalecimento da rede constitutiva da comunidade internacional que se formou após o fim da Guerra Fria, conforme expressa por Ikenberry:
O estabelecimento de acordos com base em regras e parcerias políticas e que visam a segurança trouxe resultados positivos tanto para os Estados Unidos como para boa parte do mundo. Por volta do final dos anos 90, o produto dessas relações foi uma ordem política internacional de porte e sucesso sem precedentes; uma coalisão global formada por Estados democráricos e unida por meio de mercados, instituições e parcerias de segurança. (IKENBERRY, 2003, p.26)

Em suma, essa ordem foi erguida por meio de barganhas, com os EUA assumindo compromisso de proporcionar segurança aos parceiros asiáticos e europeus e no acesso aos mercados, à tecnologia e produtos norte-americanos na economia global aberta, tendo em troca, a devida confiança no fornecimento de apoio diplomático, econômico e logístico aos Estados Unidos, complementado pela barganha liberal, no qual os Estados asiáticos e europeus concordaram na aceitação da aliança dos EUA tendo-se inseridos no sistema político-econômico, de comum acordo. Isso proporcionou aos EUA o poder como hegemônicos, proporcionando segurança ao mundo, ao mesmo tempo que, em troca, os Estados concordaram em viver segundo seus valores.

Após o ataque sofrido às torres gêmeas, o governo norte-americano se vale do seu poder para dar forma a uma nova macroestratégia contra o terrorismo, alterando seu modo de lidar com o sistema internacional, sob nova postura de afrouxamento dos vínculos e das regras antes instituídas com seus parceiros globais, exercendo papel mais unilateral e preventivo, valendo-se de seu poderio bélico na gestão de uma nova ordem global pautada na segurança.

Os EUA iniciam esta nova fase, com foco na manutenção de seu status de hegemônico, baseando-se em sua força bélica, não mais se pautando pelas macroestratégias realistas e liberais, deixando sem sentido os antigos acordos e alianças e tomando para si o papel de protetor do mundo, o fiscalizador do cumprimento das regras; por meio de uma segurança paternalista pautada na autoridade da força militar ao invés da autoridade moral, de forma que nenhum outro Estado possa se equiparar ou desafiar o seu poder. Se vale desta prerrogativa, com base em ações preventivas, de passar por cima da soberania de outros Estados em busca do seu intento, onde quer que seja, para aniquilar com forças terroristas, mesmo sem ter a visão clara das ameaças.

O autor aponta como riscos da nova macroestratégia neo-imperial, a atuação dos EUA “destituídos de legitimidade e desvinculados das normas e instituições da ordem internacional do pós-guerra”, tornando-se mais hostis e proporcionando maiores dificuldades à concretização dos seus interesses, por fim, colocando-se em situação insustentável.

Com esta atitude, não consideram a decisão final das Nações Unidas, invadindo o Iraque sob pretexto de possuírem armas de destruição em massa – o que não foi provado - gerando grandes ônus decorrentes da manutenção das forças militares na restauração do Iraque e na manutenção das forças militares no Afeganistão, sem sucesso na captura de quem consideram ser o mentor dos ataques às torres gêmeas.

Por sua manifestação de forma coercitiva e arrogante, pode-se comparar a possível queda dos EUA como ao de outros impérios que se utilizaram destes mesmos meios coercitivos para manifestar sua força e atingir seus objetivos, livre de restrições impostas por regras ou normas de legitimidade. Essa atitude promoveu o sentimento anti-americanista no mundo, seu descontentamento com uma ordem internacional em que os EUA jogam de acordo apenas com suas próprias regras e que, direta ou indiretamente, tem-lhes causado grandes problemas por meio de crises financeiras.


Leandro Guiraldeli

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