terça-feira, 20 de julho de 2010

Repensando o Voluntariado e a Responsabilidade Social

Repensando o Voluntariado e a Responsabilidade Social

Duas Lógicas - Cooperação e competição podem coexistir?


Duas Lógicas? Dois conceitos? Cooperação e competição podem coexistir? De início, os conceitos sugerem lógicas aparentemente divergentes. Ao final, a reflexão sobre como estas fronteiras estão se dissipando...

Lógica de Mercado.
Tradicionalmente, vale a lei do mais forte. Na lógica de mercado, faz-se analogia com a história da evolução das espécies, onde a sobrevivência só está garantida para os mais fortes.

Mercados Comerciais existem para vender produtos e serviços. São dominados pelos agentes que possuem dinheiro, tecnologia e conhecimento aplicado. O "custo de entrada" nos mercados mantém a mordomia dos agentes dominantes ao inviabilizarem a ação para os sem-dinheiro e os sem-conhecimento. Os corolários: lógica da competição, do descarte e da exclusão.

Lógica da Cidadania.
Vale a lei da insersão. Na lógica da vida, importa os Direitos Universais.
Mercados Sociais existem para promover a cidadania, através do encontro de financiadores com empreendedores sociais, de agentes de desenvolvimento com cidadãos gritando por oportunidade. O "custo de não-entrada" dos sem-dinheiro e sem-conhecimento ameaça inviabilizar qualquer projeto ético de qualidade de vida da classe média, permeável à autoculpa pela banalização da vida alheia. Os corolários: lógica da solidariedade, da oportunidade e da inclusão.

(IN)Sustentabilidade Econômica.
Em macro-economia, quanto maior um mercado nacional, mais interesse desperta e maior o poder de pressão (barganha). Empresas atuando em mercados vendem para consumidores. Para haver consumo (bens e serviços), é preciso poder de compra, que necessita de dinheiro, que só circula com trabalho e oportunidades.

Então, sem geração de trabalho e oportunidades, perde-se duas vezes. Pela falta de renda que inviabiliza o Mercado e pelas despesas sociais, que sobrecarrega Estados e Sociedade, via impostos. Há hoje, no mundo, mais excluídos que incluídos.

Deriva daí que alimentar a exclusão é uma furada! Mas então porque a pobreza não diminui? Bem, para perguntas complexas, não há respostas simples... E muito menos resposta única.

Pacto Empresarial pela Integridade e Contra a Corrupção.
Os dados oficiais indicam que o Brasil está muito mal no ranking da ética. Tem países piores mas isso não vem ao caso. O Brasil tem um grande mercado (potencial), mas precisa educar este mercado, e as pessoas para este mercado. Alô governo, cadê o exemplo?

Conivência S/A é sócia da Corrupção S/A.
Ambas são a prova de que muitas pessoas não entendem de mercado. Se entendessem, não investiriam seus talentos e suas energias para inviabilizar a si próprias um futuro melhor. O currupto já está preso e nem sequer se deu conta. Corrupção gera escravidão psicológica permanente porque o esforço de acobertamento suga o talento e a inteligência, e exaure a psiquê, que estaria melhor a serviço da construtividade.

Quando me perguntam se existe um mercado para a ética, respondo que só existe mercado com ética. Pois ética é a reflexão que se faz sobre os usos e costumes de uma cultura, um povo. Só através da ética pode-se rever a moral, os hábitos mentais e os valores em voga em cada época. E dessa reflexão, espera-se as melhorias e upgrades sociais.

Revendo Conceitos.
Agora voltemos às duas lógicas apresentadas no início. Pesquisas desenvolvidas na Alemanha, país que tem tradição em ações sociais de governos, indicam que cidadãos com direito a bolsa-caridade pura e simples acabaram apresentando comportamento contrário ao esperado, eximindo-se da competitividade natural, assentando bases no comodismo, refletido pela folha social crescente do governo alemão, país primeiromundista, uma das forças da União Européia.

Por aqui, no sul, temos o hemisfério dos (auto)excluídos. O Brasil, por exemplo, é um país que tem enorme mercado (potencial), mas o presidente decidiu a prioridade do Fome Zero. Distribuir para crescer, afirma ele. Apesar do desastrado 2006, houve a (re)eleição desta lógica. O país votou e temos mais 4 anos pela frente para acompanhar seus efeitos.

Já o Buarque - o candidato do Analfabetismo Zero, desconfio que cansou, ao bater na mesma tecla e só amargar a 4ª posição. A questão é o que este 4º lugar representou: preço pago pela insistência monótona do candidato a favor da Educação ou a inconsequência de uma maioria que não quer nem saber do assunto?

Bem, países diferentes, situações diferentes, estratégias sociais semelhantes. Governos que pensam a cidadania oposta à lógica de mercado, tendem a adotar estratégias ineficazes. Ainda não percebeu o por quê? Porque partem do princípio que os Mercados são uma ameaça e tendem a superproteger seus cidadãos, superacumulando recursos, aumentando seu próprio poder - e com ele a Corrupção S/A - valendo-se do sempre problemático Mito do Salvacionismo, melhor cabo-eleitoral já inventado em todos os tempos. Os mais demagogos ainda fazem propaganda dos seus feitos e suas benesses. Uma Lambança S/A, isso sim...

Paradoxo da Caridade.
Caridade é um arcaísmo da solidariedade. Pode vir a ser inclusive falsa-solidariedade, quando mesmo sem intenção, torna-se mantenedora do vício da baixa auto-estima, ao se alimentar da dependência sócio-cultural e do nível de educação precário alheio. Hábitos mentais são difíceis de mudar: há viciados em pedir esmola tanto quanto viciados em dar esmola. O constrangimento é maior ao enxergar por trás da necessidade alheia, a própria inércia pessoal. É triste, mas é o óbvio!

Melhor seria estimular a solidariedade, fruto da responsabilidade. Sim, indivíduos têm responsabilidade social, ou não têm? Esta não pode ser só de governos ou empresas. Não pode ser vendida, cedida ou delegada. Como emerge da maturidade, viabiliza o ombro a ombro, o ensinar a fazer, a presença física que acolhe e educa. Não assenta bases nem na caridade nem na arrogância, mas no exemplo pessoal, pois autoconsciente está das oportunidades que lhe foram dadas, do patrimônio de conhecimento que possui e das possibilidades de auxilio especializado a sua espera.

Mercado Social.
Governos e empresas inteligentes deveriam atuar sempre como fomentadores e não como executores de projetos sociais. Veja, por exemplo, a BVS - Bolsa de Valores Sociais. Promove o encontro entre a ação solidária e a vontade de empreender. Entra lá no  www.bovespasocial.com.br/Portugues/OngRegulamento.asp da BVS e procura uma área temática que não seja educacional. Não tem. Um ótimo exemplo gerador de lucro social.

Lógica da Multiplicação do Conhecimento.
A lógica da BVS é muito simples. Atua com o melhor dois dois mundos. Como assim? Exige a força e a competência apreendidos na lógica do mercado canalizados para o humanitarismo cidadão. A melhor disponibilização do esforço voluntário está na utilização do conhecimento para ensinar / educar. Se existem empreendedores sociais de talento, com disposição e vontade de fazer a diferença, estes sim tem a preferência da bolsa-sobrevivência-digna.

São eles que podem repassar com êxito e rapidamente o novo conhecimento na comunidade, pois a educação se assenta na confiança que os pares depositam neste multiplicador. A propósito, o elo comunitário explica muita coisa. Explica, por exemplo, a força dos Blogs... Bem, voltando aos Projetos Sociais, na hora da avaliação, os agentes de multiplicação se reúnem com os fomentadores, debatem melhorias no modelo, trocam experiência e formam uma rede e, em rede, todos se educam e se ajudam. A solidariedade substituiu a caridade com folga. Todos ganham, o mercado se aquece e, de quebra, gera-se empregos e promove-se a inclusão no atacado e não no varejão da caridade. Parece lógico, né! Que tal começar pelo Portal do Voluntariado, acessando http://www.portaldovoluntario.org.br

Lá você pode conhecer outros projetos e encontrar sua turma.