A Nova Cultura e a Desamericanização da Vida.
Ascensão e queda das Ideologias, e os ciclos de aprendizagem e mudança coletiva.
A interpretação da História, ainda que por meios documentais, depende muito da motivação de quem a faz. Acontece que ao olhar o desenvolvimento social pelo viés econômico-progressista - o mais comum -, corre-se o risco de deixar de lado as questões humanistas, laborais, ecológicas, políticas e uma infinidade de outras variáveis.
Vejamos esses pontos em detalhes...
Aceleração da História.
Há 150 anos, a História ensaiava um grande salto. Nos países primeiro-mundistas, o pensamento econômico apostava suas fichas na Indústria como mola-propulsora das Sociedades.
O Desenvolvimentismo passou a depender do Consumismo, e tornara-se sinônimo de Industrialização e Produção de Bens de Massa - a chamada segunda onda (TOFFLER, 1980).
O discurso modernista bastava para justificar a espoliação dos recursos naturais. O mundo se (re)inventava.
Na linha-de-produção, "inventa-se" o dejeto fabril. Nas florestas "inventava-se" o desmatamento e nas fornalhas, a poluição, para gerar carvão. Enquanto isso, no chão de fábrica, "inventava-se" o homem-máquina e a nova "neurose".
Na virada para o Séc. XX, o pensamento ecológico praticamente não existia. O pensamento psico-humanista resignava-se com a marginalidade dentro da academia. Época em que despontavam FREUD e seu pensamento desafiador do senso comum, e JUNG - seu interlocutor mais preparado -, então uma jovem promessa.
Ascensão e Queda das Ideologias.
Pois bem, mais de um século depois, chegamos ao Séc. XXI. Diante do reconhecimento de que o modelo é autofágico, ganham importância os pensadores - a luz no fim do túnel - que sustentam a necessária reconciliação do pensamento econômico com o pensamento eco-humanista.
Na esteira do esgotamento de recursos, a crítica (eco)nômica enfim começa a questionar o materialismo aquisitivo - que era o valor supremo emergente da industrialização - e começa a incorporar a intenção da (eco)sustentabilidade e da (eco)eficiência nas práticas e no discurso.
Mas a promessa do futuro ainda falha porque a crise humanista igualmente resultante do mesmo modelo, infelizmente, é pouco compreendida. A ideologia que dá "carta-branca" a alguns (cultura dominante) para produzir felicidade a custa de muitos, é a mesma que até a pouco ignorava a força de muitos (contra-cultura interconectada) para reinventar o próprio modelo e, na sequência, questionar as bases na qual se estabelece a felicidade.
Para alguém que ache que a Sociedade é viável do jeito que está, recomendo a leitura atenta aos jornais diários. Facilmente lê-se sobre a crise de lideranças (política), a explosão demográfica, a concentração de riqueza, o problema básico da ética, a manipulação da informação, a violência urbana e o terrorismo.
Assuntos que não saem das pautas. Daí se vê que o gargalo civilizatório vai muito além do G-7. E não é de hoje.
Em toda a história civilizatória, nunca houve um instrumento capaz de organizar e interligar seres humanos em larga escala. Com a Internet, a perspectiva é outra.
Ciclos de Aprendizagem e Mudança Coletiva.
Há pesquisas em Economia Evolucionária (DEVEZAS e MODELSKY, 2004) que compreendem o momento atual como co-evolução de três transições: a mudança da onda tecno-econômica (ascensão das biociências), uma viragem no ciclo geopolítico (fim da Pax Americana) e inclusive, também, a provável mudança num ciclo muito mais longo que alguns designam de afirmação da "opinião mundial" (Onda do Interacionismo inaugurada com a "Galáxia da Internet"). Por estes motivos, o momento atual seria único.
Ciclos Históricos Longos.
Ao "reler" o passado com os óculos de vários tipos de ciclos de longa duração (Millenial Learning Process), T. Devezas, G. Modelski; tratam a dinâmica histórica como um processo "evolucionário" baseado na aprendizagem coletiva transmitida pelas mudanças geracionais (tecnicamente de 30 em 30 anos).
Utilizam um modelo físico-matemático, baseado em princípios da teoria da evolução, usando algoritmos e robustez científica, para afirmarem que os ciclos "aninham-se uns nos outros" e "evoluem em conjunto".
Nas descontinuidades da Ascensão e Queda das Civilizações, para cada ciclo de longa duração, que corresponde a mudanças de valores, um novo eixo precisa emergir.
A Nova Cultura.
A História registra que o aspecto humano sempre foi "atropelado" pelo discurso desenvolvimentista. Invasões, saques, exploração, escravagismo. Haja desculpa esfarrapada!
O novo capítulo desta insensatez chama-se crise de identidades da pós-modernidade. A Indústria Cultural, nascida com a segunda onda, sustentáculo da sociedade de massa, viveu seu apogeu empacotando o entretenimento, agregando emoção espetaculosa, estereótipos e fascínio pela fama e "vendendo" como fórmula de felicidade para o relax do trabalhador braçal.
A compreensão do efeito da pulverização desses valores por décadas torna-se crítica para estudos relacionados a comunicação social, mídia e educação, por exemplo. O lado perverso da massificação é a Colonização Cultural, ameaçadora do futuro justamente porque escraviza e aliena as mentes.
Pobre homo fabris... Com a chegada da Sociedade da Informação, a sociedade se segmenta. O modelo que dissociava produção (bem-material) e cognição (bem-imaterial) do início da industrialização está tendo que ser repensado. A ideologia das "pessoas-máquinas" deteriora-se rapidamente.
Torna-se necessária a emergência de uma nova cultura, não para transmitir conceitos em escala industrial e massiva como a anterior, mas identificada com a terceira e quarta onda tecno-econômica, capaz de organizar pessoas por redes de afinidades e nichos de interesses comuns, a fim de possibilitar sua emancipação e com isso, a transição da sociedade.
Saída da "Matrix".
Não existe uma só resposta correta. É preciso avaliar as consequências das escolhas. Não se aprende sobre ética em cartilhas, do tipo: "isso eu posso, isso eu não posso". Crianças usam cartilhas. Para adultos, é desperdício de aprendizagem. É preciso aprender a questionar os porquês das coisas. É completamente diferente dizer "faço porque há uma Lei que me obriga" e "faço porque meu discernimento me diz que isto tem que ser feito e é o melhor para todos".
Em síntese, aprender sobre ética é aprender a fazer melhores escolhas pessoais. O homo sapiens precisa urgentemente aprimorar sua ética, para que se possa iniciar um revisionismo histórico capaz de (re)aprumar o sentido da evolução para todos. O princípio é de que não faz sentido conceituar uma Sociedade do Conhecimento sem a contraparte do conhecimento auto-referente, ou conhecimento de si mesmo (autoconhecimento). Neste ponto, o humano tem que caminhar junto com o social e não submisso como está, vivendo na "Matrix", sem o saber. Daí porque a necessidade de mudança no perfil de liderança.
Da ancestral liderança pela força e pelo dinheiro para a força de determinadas lideranças.
O que se pode esperar?
E é de se esperar que a mudança venha de fora do eixo anglo-euro-americano. Por que? Porque estas sociedades e suas Instituições estão atoladas demais com o modelo atual para que se disponham à tamanho (auto)enfrentamento.Posso estar equivocado. Mas penso que uma das dificuldades para estes países liderarem a renovação, fora o modelo mental cristalizado, paradoxalmente seria a barreira do estilo de vida ao qual se acostumaram e não querem rever (Money Society).
Nada tem de natural considerar a riqueza assentada na pobreza alheia, criando pesados estigmas perante as massas e suas legítimas pretensões por uma nova sociedade. E sem essa "neutralidade", difícil assumir o protagonismo a que me refiro, capaz de superar a onda de insatisfação e protestos. A Globalização não é só um movimento econômico. Carece de consenso.
Menos concreto, mas nem por isso desprezível, a expectativa mundial pelo que vai acontecer com a China, em seu processo acelerado de empoderamento, na hibridização de sua Filosofia e conjunto de Saberes Orientais Milenares com a abertura definitiva da sociedade chinesa, a despeito de um pós-Comunismo, ao longo das próximas 2 ou 3 décadas.
Quando isso amadurecer, teremos possivelmente uma lógica mundial (Knowledge Society) bem diferente da que existe hoje e, por isso, talvez, tão difícil de conceber, que dirá explicá-la, agora.
Teria a América do Sul alguma contribuição específica? E o Brasil, o gigante pela própria natureza? Talvez, quem sabe, depende...
Um pensamento a mais: Pergunto e questiono porque para mim, isto é mais importante do que ser o primeiro a responder. Se minhas perguntas têm algum valor para você, então considere meu esforço e disponha-se a questioná-las. Em debates, importa mais os argumentos que o certo/errado.
Nada tem de natural considerar a riqueza assentada na pobreza alheia, criando pesados estigmas perante as massas e suas legítimas pretensões por uma nova sociedade. E sem essa "neutralidade", difícil assumir o protagonismo a que me refiro, capaz de superar a onda de insatisfação e protestos. A Globalização não é só um movimento econômico. Carece de consenso.
Menos concreto, mas nem por isso desprezível, a expectativa mundial pelo que vai acontecer com a China, em seu processo acelerado de empoderamento, na hibridização de sua Filosofia e conjunto de Saberes Orientais Milenares com a abertura definitiva da sociedade chinesa, a despeito de um pós-Comunismo, ao longo das próximas 2 ou 3 décadas.
Quando isso amadurecer, teremos possivelmente uma lógica mundial (Knowledge Society) bem diferente da que existe hoje e, por isso, talvez, tão difícil de conceber, que dirá explicá-la, agora.
Teria a América do Sul alguma contribuição específica? E o Brasil, o gigante pela própria natureza? Talvez, quem sabe, depende...
Um pensamento a mais: Pergunto e questiono porque para mim, isto é mais importante do que ser o primeiro a responder. Se minhas perguntas têm algum valor para você, então considere meu esforço e disponha-se a questioná-las. Em debates, importa mais os argumentos que o certo/errado.