sábado, 1 de janeiro de 2011

Resenha: O Racista Mascarado – Carlos Fuentes


Resenha proposta pela disciplina de Relações Internacionais Contemporâneas.

Fuentes, no presente artigo, apresenta crítica a Samuel Hantington e sua obra “O Choque das Civilizações”, onde aborda a questão do xenofobismo apresentado pelo autor norte-americano e apresenta contra-argumentações contundentes de que, o choque inicial entre as civilizações, dada a forma dos contextos como ocorrem, podem muito mais enriquecer as culturas, dadas a multiplicidade de conhecimentos e o somatório de experiências, antes consideradas por Hantington como uma ameaça ao que Fuentes considera como um “puritanismo, que se encontra na base da cultura [...] dos Estados Unidos, que manifesta-se de tempos em tempos com cores chamativas”, e que agora, tem como alvo os latino-americanos provenientes do México, que somente vão trabalhar nos EUA, justamente por este promover a demanda, neste caso, para os mexicanos.

Estes são considerados por Hantington, uma ameaça à sociedade norte-americana, como invasores, exploradores e empobrecedores da economia, ensinuando atuarem como promotores de movimentos separatistas para a formação de uma nação à parte, onde apenas o espanhol fosse a língua oficial.

O autor contra-argumenta destacando a contribuição dos latino-americanos nos Estados Unidos, que bancam grande parte dos impostos e promovem grande força na economia, à qual geraria grande crise caso deixassem de atuar nela. E caso não fossem realmente importantes, não teriam chamado a atenção da classe política em promoverem seus programas televisivos em épocas de eleição, dirigidos aos imigrantes na língua espanhola.

Exemplifica a qualidade dos latinos em absorverem os costumes locais, sem perda de sua própria cultura, ressaltando o multiculturalismo promovido pela descendência espanhola, a qual não é inteiramente compreendida se não considerada toda a sua riqueza de sua formação racial e linguística, escancarando a atitude xenófoba e isolacionista do autor norte-americano.

Coloca em xeque a atitude isolacionista do autor norte-americano, promovido pelo medo da “balcanização” da sociedade norte-americana pelos mexicanos que, por natureza, sendo latinos, tem em sua manifestação o respeito pela diferença e pela diversidade, a começar pelo reconhecimento de si próprios, do reconhecimento pela interdependência e na valorização do ser humano em si, em “admitir que uma cultura perece no isolamento, mas se fortalece no contato com outras culturas”, argumentando que “a Itália romana, a Espanha ibérica e a França gaulesa enriqueceram-se entre si e enriqueceram as atuais sociedades do novo e do velho mundo”. (FUENTES, p. 63)

Considera o choque de civilizações uma ideologia de combate e medo, considerando por parte dos EUA, em ser uma potência, o perigo de definirem por si mesmos quem são bons e quem são maus na história das civilizações, provocando aumento do xenofobismo entre culturas, pautado em ocupações neocoloniais e principalmente na ignorância sobre as realidades culturais de outras sociedades, salientando que “o respeito ao desenvolvimento histórico  interno de uma sociedade e o respeito à ordem jurídica internacional são as bases para a construção comum de valores e um verdadeiro diálogo, e não, choque de civilizações” (FUENTES, p. 64), dando ênfase à questão de que, sucesso e fracasso em si não existem, e sim a forma de como os acontecimentos humanos são vivenciados de forma como são usados os instrumentos culturais de que dispõe as sociedades.

Está claro que, conforme Fuentes, a cultura isolacionista norte-americana e sua auto-determinação de “nação-exemplo” podem se tornar uma grande fraqueza de sua sociedade, colocando em contradição a sua tão propagada posição de país democrático.

Leandro Guiraldeli

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