sábado, 16 de abril de 2011

Conversando sobre Política, na capital do país.

Conversando sobre Política, na capital do país.
A Política, na voz de três trabalhadores brasilienses.


Pra que falar mal da Política? A problemática já é auto-evidente mesmo... Estou aprendendo a ouvir mais e a refletir para fazer algo melhor.  A conscientização política se dá em níveis, e aos poucos.

Outro dia, estava em Brasilía participando do ENERI (Encontro Nacional de Estudantes de Relações Internacionais) quando presenciei uma conversa informal, e fiquei impressionado com o debate que se sucedeu, no qual só participei como ouvinte. O relato a seguir aconteceu num micro-ônibus, quando estava dando umas voltas por lá, conhecendo a cidade.

Sentados quase ao fundo do micro-ônibus, uma moça jovem puxa conversa com uma senhora - 50 e poucos anos, sobre a beleza das rosas artesanais que carregava numa bolsa. Ela se dirigia a uma exposição. A senhora, bem articulada e falante, era artesã e comerciante, e após falar dos seus artesanatos, falou de sua "missão", à frente de uma Associação de Artesãos.

Disse que na Associação havia uma luta para se conseguir um espaço negociado com o Poder Público para expor a produção.

Dizia que na Feirinha da Torre de TV, já fazia mais de 15 anos que aguardava na fila por um box, e os espaços acabavam na mão de quem "pagava" por eles. A maioria ali era de funcionários públicos. Falava com pertinência e entusiasmo, e a conversa veio enveredando para o lado ético e político, falando de como os interesses escusos e a corrupção atrapalhavam a vida do cidadão.

Um senhor do banco de trás não resistiu e, de solavanco, bradou: "Serra é ... o mesmo que FHC; Dilma é a pior ... é o PT ladrão, do Mensalão; eu voto no mais fraco, na Marina". Foi daí que me interessei por aquele debate suigeneris. Assumi a condição de "ouvinte". A moça jovem argumenta: "Falta educação política. Não há interesse. A ignorância é a arma deles. Se derem educação, o povo não vota mais neles. E o senhor [do banco de trás], referindo-se à mente do povo: "O povo pensa que é tudo ladrão. O novato também é ladrão. Então pra que escolher o novato, deixa lá o ladrão mesmo.... Mas agora é diferente, senhor! Agora tem o Ficha Limpa. Estou acompanhando de perto, diz a senhora artesã. O povo tem que fiscalizar, tem que saber o que está acontecendo. O político barrado pode recorrer, mas na 2a instância, já entra com três votos contra... Ah? Como assim?" bradou o senhor. "A senhora calmamente explicou a novidade dessa eleição. Em seguida, deu uma pausa, e retornou, dizendo: "O governo tinha que fazer a licitação [nos boxes] na Torre de TV. É área pública, dinheiro público. Quem ganha é quem tá pagando por fora. Moro em Brasília a muitos anos e não tem prioridade para mim. Na Associação não invadimos, porque respeitamos. A gente se quotiza. Mas tá cheio de gente que invade". A moça jovem puxa conversa:"O povo tem mesmo que fiscalizar".


O micro-ônibus faz uma curva e pára de fronte a uma praça, que achei bacana. A moça jovem sorri, se despede e desce, bem como outros passageiros. Me levanto, olho a senhora e o homem do banco de trás. Aceno com a cabeça e, com um sorriso cúmplice, faço denunciar que prestei atenção na conversa. De repente, já descendo, ouço: "Mas um dia a situação muda, ah muda... E saio pensativo, vislumbrando registrar o que presenciara.

Realmente, quando se quer, qualquer hora é hora, para aprender e para ensinar.