Conversando sobre Política, na capital do país.
A Política, na voz de três trabalhadores brasilienses.
Pra que falar mal da Política? A problemática já é
auto-evidente mesmo... Estou aprendendo a ouvir mais e a refletir para fazer algo melhor. A conscientização política se dá em níveis, e aos poucos.
Outro dia, estava em Brasilía participando do ENERI
(Encontro Nacional de Estudantes de Relações Internacionais) quando presenciei
uma conversa informal, e fiquei impressionado com o debate que se sucedeu, no
qual só participei como ouvinte. O relato a seguir aconteceu num micro-ônibus, quando
estava dando umas voltas por lá, conhecendo a cidade.
Sentados quase ao fundo do micro-ônibus, uma moça jovem puxa
conversa com uma senhora - 50 e poucos anos, sobre a beleza das rosas
artesanais que carregava numa bolsa. Ela se dirigia a uma exposição. A senhora,
bem articulada e falante, era artesã e comerciante, e após falar dos seus
artesanatos, falou de sua "missão", à frente de uma Associação de
Artesãos.
Disse que na Associação havia uma luta para se conseguir um
espaço negociado com o Poder Público para expor a produção.
Dizia que na Feirinha da Torre de TV, já fazia mais de 15
anos que aguardava na fila por um box, e os espaços acabavam na mão de quem
"pagava" por eles. A maioria ali era de funcionários públicos. Falava
com pertinência e entusiasmo, e a conversa veio enveredando para o lado ético e
político, falando de como os interesses escusos e a corrupção atrapalhavam a
vida do cidadão.
Um senhor do banco de trás não resistiu e, de solavanco,
bradou: "Serra é ... o mesmo que FHC; Dilma é a pior ... é o PT ladrão, do
Mensalão; eu voto no mais fraco, na Marina". Foi daí que me interessei por
aquele debate suigeneris. Assumi a condição de "ouvinte". A moça
jovem argumenta: "Falta educação política. Não há interesse. A ignorância
é a arma deles. Se derem educação, o povo não vota mais neles. E o senhor [do
banco de trás], referindo-se à mente do povo: "O povo pensa que é tudo
ladrão. O novato também é ladrão. Então pra que escolher o novato, deixa lá o
ladrão mesmo.... Mas agora é diferente, senhor! Agora tem o Ficha Limpa. Estou
acompanhando de perto, diz a senhora artesã. O povo tem que fiscalizar, tem que
saber o que está acontecendo. O político barrado pode recorrer, mas na 2a
instância, já entra com três votos contra... Ah? Como assim?" bradou o
senhor. "A senhora calmamente explicou a novidade dessa eleição. Em
seguida, deu uma pausa, e retornou, dizendo: "O governo tinha que fazer a
licitação [nos boxes] na Torre de TV. É área pública, dinheiro público. Quem
ganha é quem tá pagando por fora. Moro em Brasília a muitos anos e não tem
prioridade para mim. Na Associação não invadimos, porque respeitamos. A gente
se quotiza. Mas tá cheio de gente que invade". A moça jovem puxa conversa:"O
povo tem mesmo que fiscalizar".
O micro-ônibus faz uma curva e pára de fronte a uma praça,
que achei bacana. A moça jovem sorri, se despede e desce, bem como outros passageiros.
Me levanto, olho a senhora e o homem do banco de trás. Aceno com a cabeça e,
com um sorriso cúmplice, faço denunciar que prestei atenção na conversa. De
repente, já descendo, ouço: "Mas um dia a situação muda, ah muda... E saio
pensativo, vislumbrando registrar o que presenciara.
Realmente, quando se quer,
qualquer hora é hora, para aprender e para ensinar.